Dança dos Orixás

2015

As divindades da mitologia africana são retratadas no ensaio de Geraldo Melo em movimentos erráticos exigidos pelas incertezas que cercam os deuses apaixonados do Candomblé*. Não há virtude nem vício, não há julgamento, há apenas o gesto que faz jus ao sentimento. A dança na imagem dos Orixás de Geraldo não só contempla o movimento do rito, mas atinge o estado de êxtase do consagrado. Todos nos consagramos quando admiramos a beleza das cores coreografadas pelas mãos do fotógrafo no domínio técnico da luz, a mesma luz que atravessa o céu de Iansã e a lâmina de Ogum. Nessas fotos em rotação dinâmica, experimentamos a vertigem, a alegria e a tensão das festas africanas e brasileiras dedicadas à iniciação.

No entanto, a intenção de Geraldo, embora nascido em Salvador e fortemente influenciado pela presença do Candomblé na cultura baiana, não é contar uma história de fé e devoção. É apenas contribuir para uma leitura secular da extrema riqueza poética dos mitos africanos: sua força estética, seu valor catártico, sua permanência no inconsciente coletivo das nações que compartilham sua afrodescendente e sua influência em todos os aspectos da expressão cultural dessas pessoas.

Todos os santos da Bahia
(Edição Bilíngue Português/Inglês)

O ensaio de Geraldo, portanto, é livre de leitura religiosa e, por isso mesmo, rico em novas leituras possíveis desses deuses que – como os deuses gregos, com os quais estamos mais familiarizados – permanecem alertas na defesa de tudo o que é autêntico, visceral, mágico e imprevisível, assim como a arte. *Religião de origem africana com mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente na África e no Brasil.

*Religião de matriz africana com mais de três milhões de seguidores em todo mundo, principalmente na África e no Brasil.

Karla Mourão