Cotidiano e mágico

Por Ferreira Gullar

Ao ver pela primeira vez as fotografias de Geraldo Melo tive a sensação de estar conhecendo um modo novo de se expressar fotograficamente.

O curioso é que nas suas fotos não havia nada de estranho, nenhum propósito de chocar a quem as visse, muito embora estivessem marcadas por uma expressão muito peculiar, própria delas.

De suas fotos, a primeira a me tocar especialmente mostrava a ampla vista dos edifícios de uma cidade antiga, com altos prédios se impondo à vista do espectador. Irradiava-se deles uma expressão diferente, como um impacto indisfarçável. Esse mesmo impacto, não obstante, eu o senti ao ver outras de suas fotos, fosse uma ponte sobre um rio, uma moça atravessando um parque arborizado ou um grupo de homens em torno de uma mesa, comendo. Tudo, ao mesmo tempo, cotidiano e mágico.

No princípio pensei que essa magia decorria das cores, da originalidade que Geraldo Melo consegue imprimir ao colorido de suas fotografias. E talvez seja verdade. No entanto, ao ver uma foto em preto e branco, descobri que aquela magia não resulta apenas das cores, mas de certa áurea especial de que ele impregna as figuras que fotografa, do modo como concebe suas composições e a relação de forma e espaço, de luz e sombra, própria à sua linguagem de fotógrafo.

Referindo-se a sua arte, Melo afirmou que suas fotografias são o resultado, não apenas da técnica, mas também de uma demorada reflexão sobre o que vai fotografar.

Não tenho dúvida de que fotografias de tal qualidade não nasceriam da captação eventual das imagens.

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